Quetiapina

Ações terapêuticas.

Antipsicótico.

Propriedades.

Trata-se de um antipsicótico do tipo das dibenzotiazepinas, similar em estrutura e atividade à clozapina. Classifica-se como antipsicótico atípico devido à sua pequena tendência a induzir efeitos adversos extrapiramidas. A quetiapina provoca hiperprolactinemia de menor grau do que aquela observada com haloperidol (relacionada com seu efeito bloqueador dos receptores dopaminérgicos do tipo 2), porém de maior grau do que aquela produzida pela clopazina. Em estudos realizados in vitro, observou-se que a quetiapina liga-se com grande afinidade aos receptores serotoninérgicos do tipo 2 (5-HT2), com afinidade moderada pelos receptores de dopamina do tipo 2 (D2), a-1 adrenérgicos, a-2 adrenérgicos (H1) e histaminérgicos 1. Antagoniza de modo muito discreto os receptores dopaminérgicos do tipo 1 (D1) e os receptores de serotinina do tipo 1A (5-HT1a). A quetiapina não se liga a receptores de benzodiazepínicos nem a colinérgicos muscarínicos. Em estudos conduzidos em animais, a quetiapina mostrou uma biodisponibilidade de cerca de 15%. Sua ligação a proteínas é de aproximadamente 83%, a meia-vida de eliminação é de 3 a 3,5 horas; não obstante, pela administração de duas horas diárias, o fármaco permanece ligado aos receptores 5-HT2 e D2 por aproximadamente 12 horas. A quetiapina é amplamente metabolizada em nível hepático, detectando-se eliminação de cerca de 5% da dose pela via renal na forma inalterada e de 73% como metabólitos. Cerca de 21% da dose aparece nas fezes. A depuração plasmática é reduzida em cerca de 25% em pacientes com insuficiência hepática, razão pela qual neste tipo de pacientes poderia ser necessário reajustar as doses. Na insuficiência poderia ser necessário reajustar as doses. Na insuficiência renal grave relatou-se uma redução da eliminação da ordem de 25%. Apenas em concentrações 10 a 50 vezes maiores do que aquelas produzidas pelas doses usuais a quetiapina e seus metabólitos podem inibir as enzimas do citocromo P-450 humano (1A2, 2C9, 2C19, 2D6, 3A4). Assim, espera-se apenas um baixo índice de interações com outros medicamentos metabolizados por esta via.

Indicações.

Psicoses agudas e crônicas, exacerbação aguda da esquizofrenia crônica e subcrônica.

Posologia.

A dose adequada deve ser ajustada segundo a resposta clínica, iniciando-se o tratamento com 50 mg ao dia e aumento de 50 mg a 100 mg/dia. A dose limite é de 750 mg/dia. A dose diária deve ser administrada dividida em duas tomadas. Em pacientes com insuficiência renal e hepática, as doses devem ser reduzidas em cerca de 25%.

Superdosagem.

Caso haja superdose pode-se esperar exacerbação de seus efeitos farmacológicos (sonolência, sedação, taquicardia, hipotensão). Tratamento: suporte sintomático, estabelecimento e manutenção de uma via respiratória permeável, monitoração cardiovascular.

Reações adversas.

Sonolência (17,5%), vertigens (10%), constipação (9%), hipotensão ortostática (7%), secura de boca (7%) e alteração das enzimas hepáticas (6%). Podem ocorrer também discreta astenia, rinite, aumento de peso e dispepsia.

Precauções.

Administrar com precaução em pacientes com doenças cárdio e cerebrovasculares, pois existe a possibilidade de ocorrência de hipotensão ortostática (especialmente durante os primeiros dias do tratamento). Administrar com precaução em pacientes epilépticos. No caso de se apresentarem manifestações de síndrome neuroléptica maligna ou de discinesia tardia o tratamento deve ser imediatamente suspenso. Ao ser tratada com quetiapina, a lactante deve parar a amamentação. Apesar de a quetiapina não haver demonstrado efeitos teratogênicos em animais, evitar sua administração durante a gravidez, a menos que o benefício para a mãe o justifique. Sob tratamento com quetiapina pode sobrevir sonolência, e deve haver precaução ou abster-se de manejar máquinas pesadas ou dirigir veículos.

Interações.

Medicamentos de ação sobre o SNC: administrar com precaução álcool, narcóticos, psicofármacos, anti-histamínicos e inibidores da MAO, pois os efeitos destes podem ser potencializados pela quetiapina. Lítio: pode ser administrado simultaneamente. Fenitoína, barbitúricos, carbamazepina, rifampicina e outros indutores de enzimas hepáticas: aumento da depuração da quetiapina, podendo ser necessário realizar reajuste da dose. Ácido valproico pode ser administrado simultaneamente. Risperidona, haloperidol (antipsicóticos): podem ser administrados simultaneamente. Tioridazina (antipsicótico): aumento da depuração da quetiapina, podendo ser necessário reajustar a dose. Imipramina e outros inibidores da enzima CYP2D6: podem ser administrados concomitantemente, não havendo alteração da farmacocinética da quetiapina. Fluoxetina e outros inibidores da enzima CYP2D6 e CYP3A4: podem ser administrados simultaneamente, não havendo alteração da farmacocinética de quetiapina. Levodopa, dopamina: a quetiapina pode antagonizar seus efeitos. Inibidores potentes da enzima CYP3A4 (cetoconazol, eritromicina): administrar com precaução em função do risco de parcial redução da depuração da quetiapina (a enzima do citocromo CYP3A4 é a principal responsável pela degradação hepática da quetiapina).

Contraindicações.

Hipersensibilidade à quetiapina. Depressão severa do SNC.